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Classificação de Risco: De A a D frente a indicativos de balanço utilizados pelo mercado

Written by growwW | Nov 24, 2025 6:21:53 PM

Em nosso último webinar, conduzido pelo especialista sênior Márcio Torres, reunimos analistas, gestores e profissionais de crédito para discutir como transformar a leitura de balanços em um processo mais simples, rápido e assertivo. 

A proposta foi desmistificar a interpretação de demonstrações financeiras e mostrar que, com método e lógica, qualquer equipe pode aumentar a precisão da sua classificação de risco. Márcio trouxe uma abordagem clara, prática e acessível, construída ao longo de mais de trinta anos de experiência como gerente de risco na Serasa Experian, professor de finanças na ESPM e mentor de centenas de analistas pelo país.

Durante o encontro, ficou evidente que grande parte das dificuldades em analisar balanços vem, na verdade, da forma como esses documentos são organizados e apresentados. Muitos profissionais têm medo de errar, receio de não “ver” algo importante e insegurança na hora de interpretar números que parecem contraditórios. 

Nosso objetivo foi mostrar que existe uma forma mais objetiva de estruturar essa leitura, e que ela funciona independentemente do porte ou do segmento da empresa analisada.

Por que o balanço ainda assusta tanta gente?

Logo no início, Márcio provocou a audiência perguntando por que, mesmo com tantos cursos, tecnologias e manuais disponíveis, os balanços ainda causam desconforto. A resposta, segundo ele, está na forma como muitos profissionais foram apresentados ao tema: de maneira teórica, abstrata e distante do contexto prático do mercado. 

A experiência de enfrentar um balanço de dezenas ou centenas de páginas, cheio de nomenclaturas desconhecidas, cria uma barreira psicológica difícil de quebrar.

Outro ponto abordado foi a falta de padronização. Cada empresa, cada contador e cada software contábil cria um balanço com sua própria “personalidade”. Isso gera uma sensação de que o analista está sempre começando do zero, como se cada documento exigisse um novo processo mental. 

Márcio reforçou que essa percepção é natural, mas não precisa ser definitiva. Ele mostrou como separar o balanço em blocos lógicos diminui drasticamente a complexidade.

O mais importante é entender que o medo não está no balanço em si, mas no excesso de informações dispersas. Ao alinhar o olhar para poucos grupos estruturados como operações, finanças e longo prazo, o analista começa a identificar padrões, reconhecer comportamentos e entender a história por trás dos números.

Como tornar a leitura do balanço mais simples

A essência da metodologia apresentada por Márcio está em simplificar sem perder profundidade. Ele mostrou casos reais onde balanços gigantescos foram reduzidos a poucas páginas sem comprometer nenhuma informação relevante. O foco está em eliminar ruídos, identificar distorções e traduzir o documento para uma estrutura que qualquer analista consiga revisar rapidamente.

A chave, segundo ele, é sempre ler o balanço com uma pergunta em mente. Não se trata de abrir o documento e absorver tudo de forma aleatória. É preciso procurarmos respostas específicas: a empresa gera caixa? Ela financia seu próprio giro? Existe pressão oculta em fornecedores? O crescimento está coerente com estoques e duplicatas? É esse direcionamento que transforma a análise em um processo lógico.

O método se torna ainda mais poderoso quando o analista desenvolve o hábito de comparar períodos, confrontar dados do balanço com informações do mercado e construir um raciocínio evolutivo. Ao invés de olhar os números como peças isoladas, o método transforma o balanço em uma narrativa empresarial, algo que permite compreender não só o que aconteceu, mas para onde a empresa está caminhando.

A importância de criar hipóteses para explicar os números

Um dos pontos mais enfatizados por Márcio foi a necessidade de trabalharmos sempre com hipóteses. Quando um número parece estranho demais, desconectado da realidade do setor ou incoerente com períodos anteriores, o analista não deve assumir imediatamente que há um erro contábil. Antes disso, é essencial formular cenários possíveis que expliquem aquela variação.

Márcio apresentou duas grandes hipóteses que devem ser consideradas sempre: a hipótese otimista e a hipótese pessimista. A primeira avalia se a empresa pode estar melhor do que o balanço sugere, algo comum em setores sazonais ou em momentos de forte expansão. A segunda investiga se a empresa está pior do que demonstra, o que acontece em casos de pressão de capital de giro, estoques mal geridos ou renegociações de curto prazo que mascaram risco.

Ele mostrou na prática como esse exercício de hipóteses permite enxergar o balanço de maneira mais estratégica. Em vez de reagir aos números, o analista passa a investigar causas, cruzar indicadores e avaliar coerências internas. 

Esse processo transforma a análise financeira em um trabalho investigativo, evitando conclusões precipitadas e fortalecendo a assertividade das recomendações.

O caso Americanas: sinais que apareceram antes da crise

Um dos momentos mais marcantes do webinar foi a revisão dos sinais presentes no balanço da Americanas antes da revelação das inconsistências. Márcio demonstrou, de forma didática, como alguns indicadores já apontavam para problemas estruturais significativos. 

A geração de caixa estava comprimida, o endividamento bancário crescia em ritmo acelerado e o peso dos juros sobre o EBITDA aumentava de forma preocupante.

Para muita gente, esses sinais eram percebidos apenas como características de um grande varejista. Mas, quando analisados em conjunto, revelavam uma pressão de giro incompatível com a solidez da marca.

 Márcio reforçou que o objetivo não é “apontar o dedo”, mas sim aprender com o caso. A crise da Americanas provou que o balanço mostra muita coisa, desde que o leitor saiba o que procurar.

Ele destacou ainda que a antecipação de risco depende menos de ferramentas e mais da sensibilidade analítica. Quem aprende a ler os blocos do balanço como peças conectadas consegue identificar contradições, tensões e fragilidades antes que elas se tornem crises. Esse foi um dos principais recados deixados aos participantes.

O modelo Fleury e a abordagem que utilizamos

Durante o webinar, apresentamos o modelo clássico do professor Fleury, amplamente utilizado por analistas para estruturar a leitura dos demonstrativos financeiros. O método divide o balanço em três blocos principais: financeiro, operacional e de longo prazo. Essa organização transforma um documento complexo em uma estrutura muito mais inteligível.

Em seguida, mostramos como adaptamos esse modelo para torná-lo mais prático e aplicável ao ritmo atual das análises de crédito. A abordagem que utilizamos reduz ambiguidades, destaca automaticamente distorções e amplia a capacidade de leitura em profundidade. O resultado é um processo que mantém a lógica original do Fleury, mas com fluidez operacional muito maior.

Márcio reforçou que a leitura por blocos reduz erros comuns gerados por interpretações isoladas. Um aumento de caixa não pode ser analisado sem observar o endividamento. Uma expansão de receita precisa ser comparada ao comportamento do estoque. Cada informação ganha clareza quando alinhada ao bloco correspondente. É essa lógica que sustenta uma análise mais sólida e mais rápida.

Como interpretar as classificações A, B, C e D?

Outra parte essencial do webinar foi a explicação sobre as classificações A, B, C e D. Esse sistema ajuda analistas a traduzir o comportamento financeiro das empresas em uma linguagem simples e prática. Durante a apresentação, detalhamos como cada letra representa um nível diferente de saúde financeira e capacidade de financiamento das operações.

As empresas classificadas como A e B são aquelas que geram caixa de forma consistente e conseguem manter suas operações sem depender de capitais externos para o giro. São chamadas de empresas aplicadoras, pois têm estrutura para reinvestir e crescer com segurança. 

Já as classificações C e D representam empresas com pressões estruturais maiores, dependentes de financiamento externo para manter suas atividades.

Márcio reforçou que essa classificação não é definitiva nem punitiva. Na verdade, ela funciona como um mapa. Empresas podem melhorar ou piorar conforme decisões operacionais, investimentos e mudanças macroeconômicas. 

Por isso, acompanhar a evolução da classificação é tão importante quanto olhar a foto do momento. O webinar mostrou exemplos reais de empresas que migraram entre categorias após ajustes simples de gestão.

Como aplicamos esse conhecimento no dia a dia

No último bloco do webinar, conectamos toda a teoria ao cotidiano das equipes de crédito. Explicamos como transformamos balanços desorganizados em relatórios claros, como padronizamos demonstrações contábeis heterogêneas e como destacamos automaticamente pontos sensíveis que exigem atenção imediata. Esse processo torna as análises mais rápidas e reduz drasticamente o risco de erros de interpretação.

Também mostramos como consolidamos historicamente os dados de cada empresa, permitindo acompanhar evolução, deterioração ou melhorias estruturais. Essa visão longitudinal é essencial para entender não só o momento da empresa, mas sua trajetória, algo que a análise tradicional, focada apenas no último balanço, não consegue capturar.

Para muitas equipes, a maior transformação está na mudança de mentalidade. Quando o processo se torna mais objetivo, os analistas conseguem dedicar mais tempo ao que realmente importa: conversar com clientes, validar informações estratégicas e tomar decisões baseadas em lógica, e não em intuição. É esse ganho de clareza que buscamos proporcionar diariamente.

O fluxo de caixa nos mostra além dos números

O webinar mostrou que a análise de balanço pode ser clara, direta e acessível. Com método, sensibilidade e lógica, o balanço deixa de ser um desafio e se transforma em uma das ferramentas mais poderosas para reduzir risco e aumentar a segurança das decisões.

Márcio Torres reforçou que qualquer analista, independentemente do nível de experiência, pode evoluir rapidamente quando aprende a ler o balanço de forma estruturada. A prática leva à naturalidade, e a naturalidade leva à precisão. É esse ciclo que queremos fortalecer nas equipes que nos acompanham.

Se você deseja aprofundar essa metodologia e aplicá-la nas suas análises, estamos à disposição para apresentar nossos processos e soluções. Entre em contato para participar dos próximos webinars, solicitar uma demonstração ou continuar essa conversa com a nossa equipe.