Os desafios do mercado financeiro brasileiro: regulamentações, Selic e estratégias para 2025

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O sistema financeiro brasileiro enfrenta um cenário de transformações estruturais significativas, impulsionado por mudanças regulatórias e um ambiente macroeconômico desafiador. A Resolução 4966, ao exigir uma transição para novos modelos de gestão de riscos e as exigências de garantias, impactando nas taxas aos tomadores de crédito e na rentabilidade das instituições, juntamente com a elevação da taxa Selic e pressões inflacionárias, desenha um panorama complexo para 2025. Esse cenário remete a períodos de crise, como os de 2015 e 2016, exigindo estratégias cautelosas de todos os agentes econômicos.

 

Impactos da Resolução 4966 no Setor Bancário

A Resolução 4966 representa uma mudança de paradigma, introduzindo o conceito de perdas esperadas (Expected Credit Loss - ECL) como padrão para cálculo de provisionamento, substituindo o modelo de provisionamento mínimo. Essa alteração demanda uma reestruturação dos processos internos dos bancos e a reavaliação de ativos financeiros, como os Títulos e Valores Mobiliários (TVMs), que agora passam a ser marcados a mercado.

Apesar do avanço técnico, as incertezas quanto à implementação prática permanecem. Rosangela Kichimoto, superintendente de crédito do Banco BMG, destacou: "O que acontece é que temos uma série de conceitos que dizem o que deve ser feito, mas não explicam como. Isso gera complexidade, especialmente para instituições menores, que ainda tentam entender como aplicar as novas exigências sem comprometer a performance operacional."

 

Cenário Econômico: Selic e os Efeitos no Crédito

A elevação contínua da taxa Selic, com projeções indicando um patamar de até 16% em 2025, impõe desafios adicionais. O custo elevado do crédito afeta negativamente empresas alavancadas, que enfrentam dificuldades em honrar compromissos financeiros, aumentando a necessidade de renegociações e reperfilamento de dívidas. Além disso, haverá retração natural nas concessões de crédito, seja pela seletividade natural em ambiente de maior risco, seja pelo maior nível de inadimplência que irá ocorrer. Rosangela também chamou atenção para os impactos específicos no mercado de crédito consignado: "Com a alta da Selic dentro de um mercado regulado, muitos bancos suspenderam operações na modalidade de empréstimo consignado, visto que se faz necessário uma alteração das taxas para acompanhar a rentabilidade do produto e tem impacto na redução da oferta de crédito de um produto extremamente atrativo para as PFs."

 

Estratégias de Mitigação e Resiliência no Crédito

Neste cenário de incerteza, a prudência é fundamental. Para as instituições financeiras, isso se traduz em maior rigor na análise de crédito, exigências mais robustas de garantia e foco no acompanhamento das carteiras atuais para evitar deterioração de qualidade. As empresas, por sua vez, devem reavaliar investimentos, priorizando iniciativas de menor risco e maior previsibilidade de retorno, sobretudo as médias e pequenas empresas. O que é o avesso do praticado por boa parte do empresariado deste segmento, com baixo nível de planejamento e a famosa ansiedade, indo com muita sede ao pote na maioria das vezes, quando deveria estar pensando em sobrevivência e estabilidade.

A perspectiva macroeconômica desfavorável, com o aumento de recuperações judiciais e limitações de crédito, reforça a necessidade de cautela. Como observado por Rosangela, "O mercado está desafiador, e muitos projetos estão sendo revisados, pois o custo elevado de financiamento não encontra demanda suficiente na outra ponta. A recomendação é manter operações mais conservadoras."

 

Perspectivas e Desafios para o Futuro

O ambiente regulatório e macroeconômico deve permanecer desafiador em 2025, com implicações diretas para o mercado de capitais. A ausência de janelas favoráveis para IPOs, já observada desde 2022, ilustra a retração do apetite por risco. Além disso, as incertezas políticas internas e a volatilidade econômica global tornam essencial a adoção de estratégias que combinem resiliência e inovação.

Em suma, o ano de 2025 será marcado pela necessidade de ajustes profundos e pela busca de estabilidade. Como apontado por Rosangela, "O mercado financeiro está sendo moldado por forças externas e internas que exigem adaptações constantes. Apenas aqueles que priorizarem a prudência e a eficiência estarão preparados para navegar esse período de adversidade."

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Eduarda Bagesteiro Rigon

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